segunda-feira, 4 de abril de 2011

LARGA O CALDEIRÃO, SEVERINA

Eu sei, eu sei... Vocês estão pensando: "Lá vem ela de novo! Será que as bizarrices dessa coitada não tem fim?!" Olha gente, tá difícil! Do jeito que a coisa anda então... Vai longe!

De todas as histórias que eu tenho, a única que ainda não me sinto preparada para contar é a do meu primeiro trastenamorado (o que eu chifrei "sem querer" com o mocinho famoso da regata marrom, lembram?!). Não sei, não consigo achar graça no que aconteceu... A lembrança mais forte ainda é o sofrimento. E não estou falando em coração partido não! Estou falando de incessante dor física e mental.

O traste era meu amigo, em certo ponto, meu melhor amigo. Mas eu gostava dele, me apaixonei por ele à primeira vista e então teimei, teimei, teimei até que ele virou meu namorado. É irônico... na vida, as vezes, é quando a gente acha que ganhou que na verdade perdemos. Não tinha como dar certo...

Foi em uma madrugada de desespero, depois de mais uma briga horrorosa com o traste, que liguei para o meu pai em busca de consolo e ele, muito fofo, reconhecendo em mim a teimosia hereditária, me contou, com toda paciência que lhe é peculiar, a história do urso:

"Uma vez uns caçadores montaram acampamento na floresta e, quando saíram para caçar, deixaram uma sopa cozinhando para comerem na hora que voltassem. O cheiro da sopa era delicioso e um urso logo quis experimentar o que tinha ali. Mas ele era urso e não sabia que o caldeirão da sopa deveria estar muito quente, então ele foi até a fogueira e abraçou o caldeirão. O caldeirão começou a queimá-lo, mas ele tinha tanta vontade de comer aquela sopa que quanto mais ardia mais ele apertava o caldeirão. Os caçadores, de longe, ouviram os gemidos de dor do urso e correram para o acampamento, mas quando chegaram lá o urso já estava dando seus últimos suspiros. Ele queria tanto provar a sopa que acabou morrendo abraçado ao caldeirão." E continuou: Você, filha, é uma menina inteligente, não é como o urso. Você tem que soltar o caldeirão, porque ele está te matando.

Para ter certeza que tinha deixado tudo bem claro meu pai ainda acrescentou: Você entendeu que o caldeirão, no seu caso, é o traste, né?!

Eu tinha entendido! Minha irmã entendeu, minhas amigas entenderam e tenho certeza que vocês também entenderam! Mas como se deixa de ser teimosa?!!! Como se abandona o otimismo e se supera a negação?!!! Pior, como se mata essa Pollyana idiota que vive dentro de cada uma de nós sempre brincando do jogo do contente?!!! Essa receita papai não deu!

Eu francamente não sei o que me move... Até hoje eu também prefiro deixar o osso apodrecendo na boca a largá-lo para alguma vira-lata pegar! Deve ser algum tipo de instinto territorialista primitivo ou um prazer sádico subconsciente, sei lá...

O que eu sei é que muitas vezes tive inveja do urso... Ele, pelo menos, tem a seu favor o fato de ser irracional, eu não!

4 comentários:

  1. Nossa, que história triste!!!! As vezes levamos muuuito tempo pra superar as coisas, as vezes anos e anos! Também já me senti como o urso da história (aliás, seu pai é um fofo né?) e ainda me sinto assim em muitas situações. Embora o tempo leve a dor ele deixa algumas cicatrizes profundas, que as vezes revivem feridas que a gente nem lembrava mais.... também compartilho esse seu choro, Miss Severina. Mas felizmente eu te digo que as dores servem pra nos cuidarmos mais dali em diante, mesmo que ela teime em reaparecer sem avisar. Penso que isso é positivo!
    O meu lenço é todo seu, ou melhor, nosso! Por sermos tão teimosas...
    Um forte abraço!

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  2. Ai gente, acho que errei a mão no post! Não era para ter ficado uma história tão dramática... Para mim a grande sacada de todo o causo do traste é a certeza de que a gente não morre que nem o urso. Parece ridículo, mas essa constatação tão boba me fortaleceu! Eu realmente acreditava que eu ia morrer sem ele (tão Julieta a garota!) e não entendia qdo as pessoas falavam que o tempo era o melhor remédio. Que tempo podia acabar com aquela dor, eu me perguntava. Mas todos estavam certos! Como vc não morre a vida continua e o tempo (anos, no meu caso tb) realmente se encarrega de cicatrizar qualquer ferida. Um dia, do nada, vc acorda e não lembra mais pq vc sentia aquele vazio tão grande. Também chega o dia que, por mais que vc tenha jurado nunca mais gostar de ninguém, vc se descobre apaixonada novamente e essa sensação é ma-ra-vi-lho-sa! Não importa que seja um outro amor não correspondido, vale a pena! Antes de qualquer sofrimento vem o encantamento, o querer, o sonhar acordado e rir à toa... Tem coisa melhor que isso nessa vida?!! Sofrer faz parte e não mata! Deixa como herança, no máximo, um pouco de cinismo, mas isso o grande Chico já tinha nos contado!

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  3. Adorei seu post, Severina! Ser o urso não nos mata, mas podemos evitar tantas queimaduras, não?! hehehe

    Beijos, pessoal.

    PS: Eu acho que tem mta gente aí só olhando e escondendo suas historinhas... Queremos lê-las!!!

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  4. Eu nem contei minha ainda mas já me identifiquei com essa história: Eu sou a Miss Julieta. Não errou na mão não Miss Severina, nem tudo tem que ser divertido. Um bom drama nos faz bem também...nos faz sentir mais reais! Logo mais tô com meu post, eu agarantio! beijo

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